Voltei de Salvador e encontrei uma novidade em casa. A ausência-presença da gaya. A casa vazia. Silenciosa sem os latidos. Quieta sem a carrerinha nervosa dela atrás da Mel, a gatinha da minha irmã. Eu sinto falta. A Cacha sente falta. A Mel sente falta. Passa o dia ronronando e miando de saudade e solidão. E carente, claro. O que acaba sobrando pra mim que tenho que me segurar quando ela quer apenas chamar minha atenção e eu, traumatizada com os “ataques” do passado, meio que fujo dela pela casa.
Sim, aí... tava ouvindo o CD novo da Paula Toller, que o Wausteen gravou pra mim, e parei na música que ela deve ter feito pro filho. (E Paula Toller tem filho? Se tem, nem sabia...) Ainda não aprendi a letra, mas ela fala de algo sobre não conhecer “parto de partir”. Deixa ver se eu me faço entender... ela descreve como se fosse um parto (a dor, a angústia, a solidão até...) a sensação de ver o filho partindo de casa rumo ao sonho.
Aí, não teve jeito. Eu me emocionei, chorei, engasguei. Lembrei da minha mãe, claro. Das vezes dolorosas em que a gente tinha que se separar para eu e a Cacha irmos de férias ver o meu pai. Caramba, parecia que a gente nunca mais ia voltar, sabe? Ela sofria horrores... De certo que lembrei da Corrinha também porque ontem foi dia 1°, seis anos que ela subiu pro andar de cima. Mas também porque já falei aqui ene vezes do meu desejo de ser mãe e tal... e vejo isso cada dia mais distante. A cada aniversário isso fica ainda mais distante, eu acho. Aí, viajei tipo “será que nunca vou sentir esses partos de que ela fala... o parto de parir e o parto de partir?”
Esses dias, eu tenho experimentado chegadas e partidas que têm me dilacerado o coração. Tenho ido visitar a Gaya diariamente no canil onde ela está hospedada até a Maria voltar das férias. E a carinha que ela faz ao me ver chegar e ao sentir que eu tô me arrumando pra ir embora é de doer, viu? Não deu outra... me lembrei que a Gaya é minha filhotinha e que estar separada dela é dor grande pra mim. Vixe, mas eu chorei... Então, quando eu li esse poemazinho daí debaixo, me senti confortada, lembrando os carinhos que tenho dado nela e as lambidas que tenho recebido em troca. Com elegantes balançadas de rabo, claro!
“Quentinho o ninho em seu
flanco e costela, que distraio
- e agarro – triz de raio! (...)
Parte ouvido, parte eco
- e nela eu grudo,
como a clara à gema, como
à pele o esquimó
- mais do que siameses!”
(Marina Tsvietáieva)
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